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Ok..31 anos atrás eu era assim...

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Homenagem ao meu primogênito

Ando ausente devido ao trabalho que me consome...tenho visto pouca tv, lido muito pouco, mas escuto o tempo todo...não só como psicóloga, chefe, supervisora, mãe, esposa, confidente e amiga...tenho ouvido diversos sons, vozes, lamentos, alegrias...um dia desses durante os intermináveis engarrafamentos de minha cidade ouvi os "Devaneios de Juca de Oliveira" na Bandnews e lembrei do meu filho mais velho...compartilho o texto escrito com vocês.
O Menino Que Carregava Água Na Peneira


Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira

Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro
botando ponto final na frase.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.
(Manuel de Barros)

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